O coach e o coworking: uma parceria possível?

Por William Martins*

 

Opções para sediar um negócio em desenvolvimento existem, mas nem sempre atendem às necessidades do empreendedor

 

Quando saí do emprego em tempo integral para me dedicar ao coaching, minha primeira ideia foi largar o home office e ocupar uma mesa em um coworking. Juntar dois mercados em ascensão e que teriam tudo em comum: criatividade, colaboração, foco. Passado um ano de tentativas e erros, descobri que unir coaching com coworking é uma parceria improvável. E descobri o porquê.

 

Coaching é um mercado que cresce vertiginosamente. De 2009 a 2012, o número de coaches certificados no Brasil subiu de 350 para 1.100, de acordo com pesquisa da consultoria PwC e cresceu novos 300% entre 2012 e 2015, de acordo com pesquisa encomendada pela Internacional Coaching Federation (ICF).

 

Coworking é outro mercado que cresce muito. No Brasil, foi de 238 espaços em 2015 para 810 em 2017, um salto de 240%, justamente no período que o país enfrentou uma grave crise econômica e de emprego.

 

O que une coaching ao coworking é o sonho de construir um negócio próprio evitando desperdícios de dinheiro, tempo e energia. Nessa perspectiva, o coworking se propõe a fornecer infraestrutura para o empreendedor, por um baixo custo e dispensando-o de várias atividades-meio que comprometem sua produtividade. Há ainda uma promessa, nem sempre verbalizada, de que lá você estará em contato com conexões que ajudarão seu negócio a decolar em menos tempo.

 

Mas não encontrei isso na prática.

 

O primeiro motivo foi que o crescimento desses dois mercados os levou para caminhos opostos – o coach precisou oferecer cada vez mais para um público hipersegmentado, enquanto o coworking passou a reduzir sua proposta de valor para brigar por preços para um público cada vez mais amplo. Nesse cenário, o coach encontra no espaço compartilhado apenas um rateio não proporcional de uma sala comercial, mas permanece responsável por toda construção e condução de um negócio do zero.

 

O segundo motivo foi que, ao iniciar um negócio, raramente você possui recursos suficientes para torná-lo sustentável e só tem previsões e expectativas de quando isso irá acontecer. Logo, sem dinheiro, você busca soluções sem custo, mesmo que isso implique uma falta de profissionalismo ou dificulte o contato com fontes de conhecimento, experiências e relacionamento que contribuiriam para que seu negócio virasse em realidade.

 

Isso significa uma falha de mercado, porque os espaços de coworking não buscam conseguem, ou demonstram capacidade de construir um ecossistema catalisador de negócios que ultrapasse o “momento do cafezinho” e dos happy hours entre os residentes, comprometendo a entrega de valor a partir de uma experiência completa para os clientes. Ocorre que o modelo de trabalho que estamos acostumados é o ambiente corporativo, em que você pode focar, quase exclusivamente, nas atividades-fim do seu negócio – o coach conduz os processos de coaching, os advogados cuidam de suas causas, os arquitetos fazem projetos. Nesse modelo, não temos obrigações relacionadas ao processo de vendas, suporte a clientes, estratégias de marketing ou outra atividade-meio que componha o back office de uma empresa.

 

A verdade é que queremos sair ou saímos forçadamente do sistema organizacional tradicional, mas esse sistema ainda está entranhado em nossa forma de agir. Sob essa perspectiva, vi que não preciso de um espaço compartilhado de trabalho – algo que posso ter em uma das mais de 13 mil cafeterias espalhadas no Brasil – eu preciso de um ambiente fértil para que eu possa colaborar e ter a colaboração de outras pessoas que, assim como eu, ainda estão em busca da consolidação de seus modelos de negócio e fatias de mercado em um cenário altamente competitivo.

 

* Mestrando em Gestão da Economia Criativa pela ESPM-Rio e coach de carreira.