Com quantos futuros se faz o amanhã?

Por Mariana Rezende*

 

Dá para olhar para o futuro somente observando o agora? O futuro talvez se esconda nas entrelinhas da realidade presente, no entremeio da fusão entre ciência, tecnologia e arte. Para enxergá-lo, é necessário que as métricas quantificáveis dividam espaço com a criatividade. Apenas o exercício de observação atenta e de imaginação ativa pode nos levar a desvendá-lo.

 

Festival Futuros Possíveis

 

Se o ser o humano é em essência futurista, como afirmou Peter Kronstøm, foi se o tempo em que sábios profetas tinham o dom de prever o futuro, ou então, o tempo em que ficávamos deslumbrados com delirantes obras de ficção científica. Se o futuro é agora, hoje, alcançamos a sistematização metodológica de previsão do futuro e assim conseguimos, se não prever, pelo menos imaginar uma variedade de futuros possíveis.

 

Foi nesse contexto que aconteceu neste sábado (08/12), no Rio de Janeiro, o Festival Futuros Possíveis, realizado pela Casa Firjan. O evento contou com grandes nomes nacionais e internacionais, relacionados às pesquisas de tendências, compondo uma programação composta por painéis, workshops, experiência interativa e oficina maker até um show da banda Lumen Craft. Tudo foi realizado com curadoria do Lab de Tendências da Casa Firjan.

 

Na chegada, a imponência amarela da Casa já nos traz a sensação de termos chegado a um futuro. Nada é mera coincidência. Logo no início ficou explícito, nas falas das pesquisadoras representantes do Lab de Tendências, que a Casa havia passado a ser conhecida intimamente como “Casa do Futuro”, um espaço comprometido com a ação de refletir e criar propostas e soluções inovadoras para os desafios de uma nova realidade em uma sociedade em transformação constante.

 

Multiplicidade de Futuros

 

O evento, que se estenderia ao longo de todo o dia, propôs-se a difícil missão de imaginar o futuro, deixando bem clara a pluralidade do desafio: não existe um único, pré-determinado futuro, como preveem as cartomantes, mas sim uma infinidade de futuros possíveis. Esta era a missão de todas as pessoas ali reunidas: imaginar cenários futuros, entendendo como as mudanças que se dão hoje no presente podem ou vão impactar a sociedade daqui a alguns anos.

 

Fomos assim chamados a participar de uma construção ativa do amanhã em que gostaríamos de viver, tomando consciência do nosso protagonismo, enquanto sociedade, na preservação e na adaptação dos valores éticos e humanos as mudanças em curso. Como ficou evidente, ao longo de todo o evento, o futuro não é algo distante, liderado por futuristas ou empresas de tecnologia, mas sim algo construído no agora por todos nós enquanto indivíduos ativos e engajados.

 

Programação

 

Toda a programação foi estruturada com base em três Macrotemas: Imaginando Futuros, Habitando Futuros e Coexistência Futuras. Se começamos desvendando o caminho que nos leva ao futuro, os dois temas subsequentes nos permitiam o exercício de observá-lo por duas diferentes perspectivas: “Como funciona a adaptação da sociedade a cenários de grande transformação?” e “Quais são os novos arranjos sociais possíveis, intermediados por tecnologia?”.

 

Logo no primeiro painel, no relatório de Macrotendências 19-20, desenvolvido pelo próprio Laboratório de Tendências da Casa, foram apresentadas três alternativas de futuros antecipadas e pré-experienciadas:

 

1. Novaleva

 

2. Eu.lístico

 

3. Complex.ID

 

Apesar de suas particularidades, todas possuíam como característica transversal a inserção da tecnologia de forma profunda na vida cotidiana, e foram essas versões de futuros que guiaram o restante das atividades ao longo do dia.

 

O Futuro Hoje

 

Inevitavelmente chegaremos ao futuro. Prevendo-o ou não, navegaremos entre Macrotendências e Wildcards, palavras de ordem, entre futuristas. No entanto, depois de um dia inteiro de festival, no qual descobrimos que a próxima principal interface serão os meios de transporte; no qual conhecemos o primeiro Ciborgue do mundo, Neil Harbson; no qual nos deparamos com os desafios éticos enfrentados no desenvolvimento de produtos de dados, no workshop de Letícia Pozza, e em que comemos proteína de insetos, a nova Super Food de Luiz Filipe Carvalho; é difícil não perceber que realmente o futuro já chegou, pelo menos para as pessoas que ali estavam.

 

* Estudante do Programa de Iniciação Científica da ESPM-Rio, orientada pela pesquisadora do LCC Veranise Dubeux

 

Imagem: Arquivo pessoal – Mariana Rezende