A mulher na política e nas organizações

Por Karla Gobo*

 

A busca por informações sobre feminismo no Google cresceu 200% em 2 anos. A reflexão sobre as diferenças que foram naturalizadas durante séculos vem levando ao aumento de denúncias de abusos nos ambientes privado e público, assim como à ampliação do debate sobre o lugar que ocupamos neste mundo.

 

Cabe apresentar dois pontos desse cerceamento de espaços e condições marcadamente baseados no gênero. Desde 2009, os partidos são obrigados a reservar 30% de vagas para candidatas mulheres. Entretanto, nesses espaços, pouquíssimas ocupam cargos de direção. Elas são as que recebem os menores recursos para investir em suas candidaturas. O resultado disso é que, apesar do aumento do número de candidatas, o Brasil ainda tem pouco mais de 10% de deputadas federais, ocupando o vergonhoso 154º lugar dentre 193 países analisados pela União Interparlamentar. Isso nos leva a ocupar o incrível posto de terceira pior representatividade feminina na América Latina, perdendo apenas para Belize (183º) e Haiti (187º). Nas câmaras municipais, também não é diferente: desde 2004, o percentual de mulheres ficou abaixo de 15%.

 

Esta realidade não está somente na vida pública. As mulheres ganham 30% a menos desempenhando as mesmas funções de um colega homem e branco. No mercado de trabalho, as mulheres ocupam 44% dos postos de trabalho, mas apenas 16% estão nos cargos de CEOs. Isso ocorreu mesmo após consultorias como a McKinsey e Co. apontarem que a diversidade nos cargos de direção melhora o desempenho das empresas.

 

Seja no ambiente público ou no privado, o fato de ser mulher já nos coloca numa condição de desigualdade, vulnerabilidade e exposição a violências físicas e simbólicas que foram vistas como naturais durante séculos. Buscar informações, discursos e práticas que minimizem esta realidade é apenas procurar eliminar o enorme abismo que separa homens e mulheres ao nascer. Olhar para essas diferenças é o primeiro passo na luta pela igualdade.

 

* Pesquisadora do Laboratório de Cidades Criativas e integrante da Escola da Política

 

Imagem: HuffPost Brasil