A Colômbia que o Rio deveria ser

Por Roberto Sá*

 

Quando falamos em Colômbia, o que ainda nos vem à cabeça? Pablo Escobar (provavelmente com a face de Wagner Moura, em “Narcos”) ? Valderrama e sua histórica cabeleira loura? Shakira, com seu rebolado latino?

 

Em breve, isso mudará. A Colômbia será conhecida – e reconhecida – pela sua criatividade e pelas suas ações criativas focadas no desenvolvimento social, que estão ajudando centenas de pessoas a ter uma vida melhor.

 

Cabe voltar um pouco no tempo para entender por que nós, cariocas, somos tão parecidos com os vizinhos sul-americanos. Conhece algum lugar que foi dominado pelo poder paralelo durante décadas? Um lugar com violência excessiva, gerada principalmente pela ação do tráfico de drogas e que fez com que as economias locais entrassem em declínio, colocando a maior parte da população em realidade social bem triste? Devastado ainda pela miséria e sem perspectiva de crescimento? Esse lugar poderia ser o Rio de Janeiro ou Medellín. Colocam-se ainda nessas similaridades a força das culturas locais e o amor por música, dança e futebol.

 

A diferença é que a Colômbia hoje, com a trégua das FARC, começa a ressurgir no cenário mundial como um pólo de criatividade e inovação. Locais mais pauperizados não terão muitas oportunidades para inovações tecnológicas, mas são propícios às inovações sociais e culturais.

 

Alguns exemplos de inovações sociais colombianas são bem emblemáticos, como as bibliotecas Parques da Colômbia, que já foram inclusive reproduzidas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Havia unidades em Manguinhos, Rocinha e Centro, mas já tiveram seu funcionamento descontinuado. Tais bibliotecas ofereciam acesso ao conhecimento e cultura para jovens carentes.

 

Além disso, manifestações populares contaram com o apoio da iniciativa privada. O projeto “Lloro de Lloró” – que ocorre na cidade de Lloró, cujo nome (“choro” em português) está relacionado às intensas chuvas da região – levou à região uma usina de tratamento de água, na qual se engarrafa a água da chuva. Os habitantes locais, com o apoio de uma empresa privada, engarrafam a água da chuva que dá fama à cidade, customizam as garrafas e as vendem como souvenir. O projeto é simples e trouxe benefícios para a população local.

 

Outra iniciativa interessante ocorreu em Chocó, o projeto “Chocó to Dance”. O site do projeto oferece mais de 100 aulas de dança online, ministradas por moradores dessa comunidade carente. A verba obtida pelos 10 dólares de anuidade é revertida diretamente em bolsas de estudo. A alegria, a dança e a criatividade – que sobram no Rio de Janeiro – vêm sendo exploradas de forma inteligente pela população da comunidade colombiana.

 

A Colômbia é berço de outras iniciativas sociais criativas, como o “Lifesaver Backpack”, mochilas escolares com salva-vidas para crianças de regiões ribeirinhas, e “El Balígrafo”, que transforma projéteis em canetas como símbolo de uma nova Colômbia, que já segue o caminho que deveríamos seguir.

 

* Pesquisador do Laboratório de Cidades Criativas

 

Imagem: Prancheta de Arquiteto